#AUTORA                       

Capitulo #5



Eram muitas coisas para pensar, e a pequena mente confusa de Lizzie não dava conta sozinha. Não sabia nem mesmo como organizar cada pensamento, ou focar em somente um... Tudo vinha tumultuado em sua cabeça. Era muita informação em um só dia: O beijo de Zack, o reaparecimento de Tito, Summer... E Summer! Porque ela apareceu? Como ela sabia os achou e quão sortuda ela poderia ser pra chegar à casa de Martin justamente na hora em que eles voltavam antecipado do passeio? E o que ela quis dizer com “surgiu um problema” que foi entendido tão rapidamente por Zack?
Lizzie queria continuar fingindo que Summer não a incomodava e que nada a loira significava, mas depois daquela tarde e o que aconteceu entre ela e Zack, não tinha mais como fazer isso. Sim, ela se importava com a forma como Summer entrava no meio deles dois e o levava sem força e motivo aparente.

Quando parou pra perceber sua volta, o dia já tinha escurecido, a chuva parado e Martin havia saído pra trabalhar (Lizzie por sinal nem notara quando o mesmo se despediu). Ela simplesmente ficou sentada por horas na rede, absorta; O vestido úmido já nem estava mais grudado à pele, mas lhe causava frio e arrepios.
Lizzie talvez nem tivesse saído de seu transe inconsciente se não fosse culpa de Lucy, que aparecera de repente na porta chamando-a insistentemente.
- Ei, Lizzie! Acorda garota! – a voz fina de Lucy ecoava até ficar irritante. Lizzie balançou a cabeça como se espantasse os pensamentos e virou-se pra Lucy parada ao seu lado de pé usando um vestido curto vermelho - Eu vou sair com uma pessoa e talvez volte com ela. Se ouvir barulhos, não estranhe e não se assuste porque será eu, ok?! – avisou e depois deu uma piscadela que a principio Lizzie não entendeu. Em seguida, Lucy desceu a varanda e entrou num carro prateado estacionado em frente à casa que Lizzie só reparara também naquele momento.  
A rua estava bastante movimentada com bastante gente transitando e carros passando. Quase não dava pra saber que tinha chovido pela pouca quantidade de poças no chão e o clima que já voltara a se estabilizar. Lizzie se levantou da rede e entrou pra dentro de casa, contemplando o espaço vazio e escuro a qual se transformara naquela hora da noite. Ela já estava familiarizada com ambientes do tipo, e o medo de ficar sozinha ou de escuro já não fazia parte da sua realidade a anos.
Foi até o banheiro e tomou uma ducha; Colocou o vestido molhado no quarto que servia de lavanderia para lavar no dia seguinte e depois vestiu o baby doll. Não fez questão de consultar o relógio pra saber que horas eram e nem se importou com o ronco da barriga que gritava a necessidade de ser alimentada depois de horas vazia! Lizzie simplesmente subiu para o quarto no terceiro andar e deitou-se na cama caindo imediatamente num sono pesado.

Lizzie não podia ter certeza quanto tempo dormiu até abrir os olhos de repente. Um barulho forte de porta batendo despertou-a num grande susto. Olhou instintivamente para os lados procurando a origem do som, mas obviamente não era em seu quarto; O barulho vinha de um dos andares de baixo, provavelmente, o primeiro. Logo em seguida, Lizzie também pôde ouvir o som de pés subindo a escada apressadamente e depois mais um barulho de porta batendo. Foi então que a menina lembrou que Lucy havia saído e avisado que voltaria com uma pessoa. Mais aliviada, Lizzie voltou a deitar a cabeça no travesseiro e fechou os olhos, mas infelizmente não conseguiu dormir com a mesma agilidade que da primeira vez. O susto a deixou em estado de alerta, e Lucy continuava a fazer barulho, como se estivesse esbarrando em móveis ou batendo na parede. Não dava pra saber ao certo.
Lizzie contemplou a imagem do quarto emergido na total escuridão resultado da ausência de qualquer fonte de luz; A lua naquela madrugada estava escondida atrás de imensas nuvens escuras, impedindo o luar de invadir a janela pra clarear um pouco o ambiente. Nem mesmo a sombra de Tito se destacava em meio a aquela imagem negra que estava o quarto. Mirou o teto, pensativa. Qualquer minuto a mais acordada a levaria de volta aos pensamentos que a perturbavam naquele dia, e não queria passar de novo por isso. Não àquela hora! Estava cansada.
Para completar os sons emitidos do quarto abaixo, Lizzie começou também a ouvir risinhos e gemidos, tanto na voz feminina de Lucy quanto numa voz masculina desconhecida. Os dois sussurravam coisas que Lizzie não conseguia entender perfeitamente, mas não continham nem um pouco o volume das gargalhadas e dos gemidos soltados em alguns intervalos de tempo.
Tendo certeza que não voltaria a dormir facilmente daquele jeito, Lizzie decidiu apelar a técnicas medicinais ao lembrar que Lucy guardava no banheiro um remédio para dor que a deixava extremamente sonolenta como efeito colateral. Sendo assim, Lizzie levantou-se da cama, saiu do quarto e desceu para o segundo andar silenciosamente.
Foi na ponta dos pés descalços que Lizzie cruzou o estreito corredor do segundo andar, passando pela porta do quarto de Lucy e abrindo a do banheiro com total cuidado; O baixíssimo rangido da madeira se fazia despercebido pelos barulhos ainda mais altos feito por Lucy ali tão perto.
 Lizzie procurou o tal remédio nas gavetas da cômoda do banheiro tendo como lembrança só as cores da embalagem, pois o nome em sim ela não recordava; Era uma pequena caixinha branca com detalhes em azul e letras vermelhas, e provavelmente, pela espessura, o remédio vinha em comprimidos. Lizzie achou-os na terceira gaveta, e confirmou a suspeita porque foi o único rótulo anunciando que eram antiinflamatórios que encontrou. “Se não for o remédio correto, pelo menos mal não faz...” – pensou dando de ombros antes de jogar dois comprimidos na boca; Com as mãos em concha, pegou um pouco de água da pia e bebeu pra ajudar a engolir.
Encarou sua imagem no espelho à frente e percebeu que a sombra preta que havia esfumaçado em torno dos olhos havia borrado, provavelmente por causa da chuva ou de quando se deitou. Seu cabelo bagunçado ajudava a criar uma aparência ainda mais rebelde à menina, que se olhando naquele momento não se achava tão bonita como esteve mais cedo. Por algum motivo, depois de alguns segundos observando seu reflexo no espelho, Lizzie se lembrou de sua mãe e da semelhança física entre as duas. Tinha poucas memórias da mãe em bom estado, mas ainda assim, era possível notar as similaridades de suas feições, especialmente, os grandes olhos e os lábios bem desenhados. “Eles vão morrer, Lizzie!”– a voz rouca de sua mãe sussurrou em seu ouvido juntamente de uma leve brisa que invadira o banheiro pelo basculante.  Lizzie estremeceu, girando sob os pés e viu Teresa parada de pé a 10 centímetros atrás de suas costas; O susto foi inevitável, mas a menina logo se conteve.  As duas se fitaram por um tempo, e como sua mãe tinha quase que a mesma altura de Lizzie, seus olhos se encaravam diretamente. Teresa contraia os lábios num sorriso.
- O que você quer? – Lizzie enfim perguntou impaciente. Fazia anos que não recebia a visita de Teresa, e na verdade, ela nem se lembrava quando tinha sido a última vez exatamente.
- Você acha mesmo que tem o direito de se envolver com essas pessoas, abusar de sua bondade e hospitalidade, mentir pra elas e ainda permitir que fiquem vulneráveis ao mal?
Lizzie engoliu a seco e ouviu as palavras da mãe com aflição por ser obrigada a concordar com ela. Teresa tinha uma aparência ainda mais destruída: O tom mofado de sua pele estava mais intensificado, seus ossos estavam ainda mais definidos em função da magreza, o cabelo estava mais opaco e ressecado, seus lábios rachados e seus trajes – um vestido longo marrom de mangas compridas – em traças e com uma grande mancha de sangue na região aonde a mulher havia se perfurado com o punhal. O cheiro de podridão tomava conta do banheiro e ainda era possível ouvir os barulhos que vinham do quarto de Lucy ao fundo.
- Você é tão egoísta... Assim como sua mãe – disse num tom sarcástico. Lizzie segurou as lágrimas que tinha desejo de deixar escorrer pelo seu rosto, mas não conseguiu por muito tempo. Assim que uma caiu de seu olho direito, Lizzie fez questão de limpar imediatamente.
Revolta-se mais do que nunca com a sua realidade! O sorriso de contentamento da mãe morta a deixava ainda mais irritada, e tudo o que Lizzie desejou naquele momento era que ela estivesse viva para poder matá-la de novo. Ela era a culpada de tudo aquilo, só podia ser!
- Como eu acabo com isso? – perguntou com a voz trêmula. Teresa gargalhou ironicamente e Lizzie contraiu os lábios com raiva e cerrou os olhos – POR FAVOR! DIGA-ME! – falou ainda mais alto, quase gritando. Lembrou-se de Lucy no quarto ao lado e precisou se acalmar.
- Me poupe! O que você tem é praticamente um benefício! Eu sim é que me saí fudendo nessa história toda garotinha – esbravejou.
- Benefício? Todas as pessoas que eu gos... Todas as pessoas que eu me aproximo morrem, sem motivos! Não consigo viver como uma pessoa normal.
- E o que garante que viver como uma pessoa normal seria melhor?
- É melhor do que ser acompanhada pela morte...
- Todos estamos... Quero dizer, vocês vivos! A partir do momento em que nascem, é uma questão de tempo pra também morrer. Ela está o tempo todo acompanhando todo mundo - disse. Lizzie bufou descontente -Mas se eu fosse você, eu começava a me preocupar especialmente com os seus amigos –  continuou sussurrando num tom misterioso. Lizzie franziu o cenho.
- Não vou deixar nada acontecer... Não dessa vez, você vai ver!
- Não vai? Você já deixou Lizzie – disse antes de dar uma breve risada. No mesmo instante, um grito fino e curto de Lucy cortou o ar. Lizzie deixou a cara da mãe de lado e involuntariamente olhou em direção a porta; Teve vontade de correr até o quarto de Lucy, mas também receio de ver o que poderia ter acontecido, então se limitou a andar com cautela. Aproximou-se da porta e antes de sair, lembrou-se da mãe. Virou a cabeça pra dar uma ultima olhada e não viu sinal de nenhuma outra alma viva no banheiro... Ou morta.
Lizzie caminhou na ponta dos pés até a porta do quarto de Lucy, e receosa, se agachou para olhar pela fechadura que tinha uma brecha maior que o normal encontrado em casas de construções modernas. O pequeno buraco era suficiente para que ela conseguir dar uma boa olhada no interior do cômodo, e de primeiro instante, seus olhos alcançaram a visão frontal do quarto, mais exatamente, ela enxergava a cama e metade da penteadeira. Lizzie arregalou os olhos e levou a mão até a boca, mas não foi de espanto e sim de constrangimento: Lucy estava nua sentada em cima de um rapaz negro deitado também nu, e pelo movimento que a mulher fazia, estavam transando. Lizzie segurou um riso envergonhado e sua consciência mandou-a sair dali imediatamente, mas por algum motivo, ela permaneceu bisbilhotando pela fechadura. Lizzie não via perfeitamente a aparência do casal, pois eles estavam de costas para a porta, mas ela pôde notar bem a forma como Lucy subia e descia com vontade em cima do pênis do homem, e o impacto de uma pele sob a outra que era o autor de um dos sons diferentes que Lizzie vinha escutando à alguns minutos, assim como os altos gemidos de Lucy e agora, do homem, que Lizzie conseguia também ouvir ao lado da porta. O grito fino que ela havia ouvido, certamente não era de dor ou susto, mas de excitação. Pelo menos era a conclusão que Lizzie podia tirar diante da cena que presenciava indelicadamente.
A principio ela tinha bisbilhotado para se certificar de que nada ruim acontecera, mas talvez tivesse continuado olhando por curiosidade, afinal, o que ela tinha aprendido em relação a sexo foi na escola e no orfanato, e tudo sempre de forma teórica e resumida. Certa vez Lizzie chegou a assistir alguns minutos de um filme pornográfico que uns meninos do orfanato conseguiram de uma forma que ela desconhecia, e numa tarde enquanto as assistentes não estavam presentes, eles colocaram pra rolar no aparelho de um dos quartos. Lizzie, atraída pela pequena multidão de crianças curiosas que soltavam risinhos frenéticos, também se aproximou para dar uma olhada e não entendeu o porquê de tanta euforia. Ela só via um homem e uma mulher sem roupas se beijando e acariciando em diferentes lugares do corpo, e depois se uniam a partir daquilo que escondiam em baixo das roupas de baixo. Lizzie enxergava aquela prática de uma forma mais poética e romântica, e o filme por não ter cenas sexuais muito incomuns, não a assustava ou enojava. De certa forma, no pouco tempo em que ela assistiu ao filme, algo na região de seu baixo ventre formigou e seus pêlos eriçaram-se involuntariamente. Depois dessa primeira apresentação visual do que era sexo, as únicas vezes em que ela viu algo do tipo foram em cenas de filmes hollywoodianos ou séries de televisão, e as assistentes do orfanato se limitavam à apenas dizer que tal atitude só deveria ser tomada após o casamento, e caso fosse feito antes, que nunca esquecessem o uso de preservativos.

Com os joelhos começando a dolorir devido à força que Lizzie fazia sob eles para se agachar, ela finalmente decidiu parar de observar Lucy pela fechadura. Ela tinha noção de como estava sendo antiquada, mas a cena a prendera sem que ela pudesse evitar, mesmo não conseguindo enxergar na relação de Lucy a tal “poesia” que tinha visto na primeira cena de sexo que havia assistido. O único contato físico que Lucy tinha com aquele homem desconhecido era estabelecido pelo pênis introduzido na sua vagina e seu quadril que sustentava o corpo dela, fora isso, Lizzie não os viu se beijar ou se tocar em outras partes do corpo em nenhum momento.
Enquanto andava de volta ao seu quarto no terceiro andar, Lizzie sentiu que o remédio que tomara começava a surtir efeito, pois seu corpo estava um pouco mais mole e sua cabeça pesada, deixando-a tonta. Subiu as escadas e andou no corredor superior apoiando as mãos nas paredes, a fim também de se guiar no escuro. Entrou no quarto e jogou-se na cama, caindo de bruços sobre ela. Antes de suas pálpebras começarem a cair com força, Lizzie ainda conseguiu enxergar o contorno da figura negra de Tito parado a alguns centímetros da cama de frente a ela.  
Quando Lizzie abriu os olhos ela demorou pra perceber que estava de volta ao quarto de Lucy, e só o fez quando notou a diferença dos móveis. Sua cabeça estava pra fora do final cama, mas seu corpo estava deitado em cima dela. Primeiro, ela enxergou a porta e o guarda roupa, e quando ergueu a cabeça, viu que estava despida e que a roupa que havia usado para dormir estava jogada no chão junto de outras peças que não reconhecia o dono, mas que podia ver que eram masculinas. O quarto de Lucy estava iluminado por um tipo de luz vermelha que originalmente não existia, mas que naquele momento deixava todo o cômodo parecido com aqueles antigos laboratórios de revelação fotográfica. Lizzie sentou-se na cama e puxou o lençol para cobrir seu corpo, enrolando-se no mesmo; Ao fazer isso, sentiu que toda sua região próxima a virilha estava lubrificada. Não fazia idéia de como havia parado ali no quarto de Lucy ou porque estava daquele jeito.
Observou o quarto com atenção tentando encontrar qualquer detalhe adicional, e impaciente andou até a porta, abrindo-a para olhar se havia algo ou alguém do lado de fora. Não havia literalmente nada, só escuridão total. Não tinha corredor, a porta do banheiro ao lado ou o papel de parede verde musgo... Era apenas um interminável espaço vazio e preto, e só em fazer menção de pisar do lado de fora, causava-lhe a sensação de que poderia cair numa espécie de buraco sem fundo. No entanto, quando se virou para voltar pro quarto, Lizzie se deparou com a imagem de duas pessoas em cima da cama que não estavam ali segundos antes. A primeira pessoa – nua e que estava ajoelhada de costas no fim da cama – ela reconheceu rapidamente não só pelo cabelo, mas porque virava um pouco rosto pra encarar Lizzie: Era Zack. Para ver o rosto da segunda pessoa – essa, também nua, estava com os joelhos e punhos apoiados na cama, de quatro – Lizzie precisou contornar a cama, mas a cor da pele e os cabelos encaracolados ajudaram a reconhecer mais depressa: Lucy.
Zack penetrava Lucy com bastante força, e seu baixo ventre se chocava com as nádegas avantajadas de Lucy estalando um barulho só não mais alto que os gemidos da mulher, que revirava os olhos de prazer. Ele, no entanto ria maliciosamente para Lizzie, que olhava a cena sem entender, mas que estranhamente sentia-se atraída a continuar olhando. Não só isso, como ela também sentia que sua região sexual que já estava úmida, começara a ficar ainda mais lubrificada.
As unhas de Zack estavam cravadas na cintura de Lucy, onde ele a segurava e a pressionava em direção ao seu corpo enquanto movimentava seu quadril para penetrá-la, e cada segundo que passava ele fazia aquilo com mais velocidade e intensidade, mais rápido... Mais forte... Os olhos de Lizzie mal conseguiam acompanhar.
Os gemidos de Lucy se tornavam gritos. Gritos de dor. Mesmo assim ela continuava na mesma posição e não tentava lutar contra a atitude de Zack, assim como Lizzie, que permanecia de pé imóvel ao lado da cama, só observando, e assim ficou também mesmo quando viu manchas de sangue surgir no baixo ventre de Zack, escorrer pelas coxas de Lucy e respingar no colchão da cama; Além de sair uma grande quantidade de sangue da vagina, o nariz dela começava a expulsar o líquido, e Lucy também começou a tossir e cuspir sangue, deixando metade do seu rosto sujo pelo mesmo. A mulher continuou a ser penetrada neste estado até, finalmente, desabar na cama desacordada, e muito provavelmente, morta. Zack riu e permaneceu em sua posição, mas dessa vez, exibindo seu pênis ereto totalmente sujo de sangue.
- Pronto, terminei com ela. Agora podemos fazer de novo – exclamou. Zack estendeu a mão em direção de Lizzie, convidando-a. Estranhamente, ela assentiu e se aproximou, enquanto ele tratou de empurrar o corpo morto de Lucy para fora da cama, que não fez qualquer barulho ao se chocar no chão. Lizzie deixou o lençol que a cobria cair, exibindo seu corpo pálido e de poucas curvas, e tomou a liberdade de sair deitando. A generosa quantidade de sangue expelida por Lucy deixada no colchão tocava a pele de Lizzie, mas ela não se importava. Zack, também sujo, se debruçou sobre a menina, posicionando seu quadril entre as pernas dela. Sem rodeios ele tratou de penetrar seu membro imediatamente no sexo de Lizzie, que levou as mãos até o coro cabeludo do rapaz, puxando seu cabelo.
Ela conseguia sentir uma forte vibração no seu baixo ventre, assim como arrepios por todo o corpo e uma grande sensação de frenesi; Até os pêlos de sua nuca estavam arrepiados. A pressão que Zack fazia era tão intensa quanta a vontade que ela sentia de gemer e gritar pelo seu nome, mas em vez disso, ela direcionava sua força aos seus dedos entrelaçados no cabelo do garoto, e que depois desceram até sua nuca e pescoço, onde agarrou primeiramente de leve e aos poucos começou a apertar. Concentrada em sentir o prazer que ele a proporcionava com os movimentos que fazia em sua região sexual, Lizzie não percebia a maneira bruta que seus punhos tentavam se fechar em volta do pescoço de Zack, e logo a respiração dele começou a ficar comprometida, asfixiando-o. Com os olhos fechados, Lizzie não percebeu que a forma com que ele se debatia nada tinha a ver com seu desempenho na relação sexual, e mesmo tendo uma diferença no modo como ele a penetrava naquele estado desesperador, o contato ainda a excitava, o que a fazia reagir contraindo o punho com mais força em volta do pescoço de Zack. 
No instante em que o garoto perdera totalmente a capacidade de respirar e caiu desacordado em cima de Lizzie, ela abriu os olhos e viu-se de volta em seu quarto no terceiro andar. Zack não estava lá, nem Lucy morta no chão, não havia nenhum tipo de luz vermelha iluminando o ambiente e Lizzie vestida estava deitada em sua cama, e sem manchas de sangue.

Lizzie teve grande dificuldade pra sair da cama naquela manhã. Devido ao remédio que tomara antes de dormir, a menina voltou a cair no sono depois que despertou subitamente em função do pesadelo, e nem mesmo o sol ou o despertador foram eficientes o suficiente para fazê-la se levantar. Ela sentia como se tivesse levado uma surra, e todo o seu corpo estava pesado como se a gravidade embaixo das cobertas fosse extremamente maior que o normal. Suas pálpebras não obedeciam a sua consciência, e o desejo de permanecer dormindo continuou mais forte. Dez, onze horas da manhã passaram e Lizzie ainda se entregava ao sono, que por sorte, não voltou a ter a companhia de nenhum outro pesadelo.  Na verdade, o pesadelo aconteceu por volta de meio dia quando Lucy entrou no quarto de Lizzie; Empurrou a porta com força causando um estrondo, o que acabou fazendo a menina abrir os olhos num susto.

- Ei Lizze, o que tu ta fazendo dormindo ainda? – perguntou com um tom de voz alto.
Lizzie resmungou algumas coisas sem nexo e esfregou os olhos. Ainda estava absorta e sonolenta. Lucy se aproximou da beira da cama e puxou o cobertor que envolvia o corpo de Lizzie.
- Vamos, levanta garota! – esbravejou. Com o puxão, Lizzie despertou com mais agilidade e não entendeu nada a respeito do que Lucy estava fazendo e com qual motivo. Pensou primeiramente que podia ser brincadeira, mas a expressão de Lucy não era de quem fazia isso. Lizzie se sentou.
- O que é isso Lucy? – perguntou, encarando-a com o cenho franzido.
- Eu acordei e desci pra tomar café e não vi absolutamente nada! Você acha que os pães vão andar da padaria até aqui? – Cruzou os braços e levantou a sobrancelha – E a casa? Você acha justo meu pai trabalhar a madrugada toda e ao chegar se deparar com a casa num completo lixo?
Lizzie não conseguiu digerir as palavras de Lucy. Sua boca ficava entreaberta e seus olhos arregalados, pois tinha ficado realmente surpresa com a atitude da garota. Pior do que ouvir tudo aquilo, era que Lizzie não sabia o que responder em troca. Ela sentia-se na obrigação de auxiliar nas tarefas da casa, mas do jeito que Lucy falava, fazia parecer que ela era uma espécie de escrava. Lizzie sentia-se constrangida, envergonhada, mas não deixava de repugnar Lucy pela forma como ela se expressava. Aquela era uma cena completamente desnecessária, até porque Lizzie arrumava a casa todos os dias desde que a outra estava no hospital, e Lucy podia perfeitamente preparar algo para comer, por isso, Lizzie não conseguia compreender aquela reação exagerada.
- M-me d-escu – começou a gaguejar sem saber exatamente o que dizer.
- Porra... Mas que vergonha, Lizzie! Precisava mesmo eu vir até aqui? – interrompeu. Lucy encarava-a e seus grandes olhos abertos permitiam notar que os pontos de cor vermelha da íris bem estavam maiores, quase que tomando conta totalmente da mesma.
Lizzie tentou controlar o inicio de raiva que tomava seu interior, e preferiu se limitar à vergonha.
- Fica tranqüila Lucy... Eu faço o almoço em 20 minutos, ok? – sua voz saiu baixa, assim como sua cabeça. Não quis continuar encarando-a e começou a sugerir a si mesma que ignorasse aquele episódio para o bem de todos. Lucy estava estranha a dias e aquela era só mais uma de suas esquisitices escrotas. O problema real era até quando aquele comportamento iria durar, e de que forma ele poderia prejudicar Lizzie ainda mais. Ela não pretendia ser rotulada como escrava e nem agüentar tais atitudes ignorantes de Lucy, mas como precisava de um lugar pra ficar, teria que suportar o tempo necessário.
- Hm, ta. Eu vou tomando banho enquanto isso então, e depois não se esquece de dar um jeito numas roupas que eu deixei lá na lavadora! – disse antes de sair do quarto. Lizzie bufou e revirou os olhos.

É claro que vinte minutos não eram suficientes para Lizzie preparar almoço mesmo macarronada com salsicha sendo um prato simples e rápido! Ela ainda estava desorientada por causa do sono.
Lizzie bem que fez o máximo para correr com o preparo, mas não se pode exigir nada de uma comida, então quando se passou os minutos que ela dissera, Lucy desceu e foi até a cozinha importuná-la novamente.
“Mas que lerdeza!”, “Tu aprendeu a fazer as coisas com quem?”, “Eu cega fazia isso mais rápido” e mais outras reclamações que Lizzie preferiu poupar os ouvidos. Lucy ficou parada ao seu lado no fogão com os braços cruzados, observando tudo o que ela fazia, o que acabou deixando-a cada vez mais nervosa e atrapalhando seu rendimento, atrasando tudo ainda mais no final. Quando o macarrão ficou pronto e ela experimentou, viu que a irritação acabou resultando numa comida mais salgada do que deveria. Na hora começou a imaginar que isso só lhe traria mais reclamação de Lucy, e temeu não conseguir agüentar calada se isso acontecesse, pois a voz da garota já estava lhe causando raiva; Seus punhos seguravam o garfo com tanta força que chegava a entortá-lo.
Lizzie ficou em silêncio durante todo o término do preparo. Misturou o molho no macarrão e despejou a salsicha cozinhada na panela, fez a gentileza de colocar o prato e talheres pra Lucy na mesa e esperou que a comida esfriasse um pouco antes de deixá-la se servir. Quando o fez, Lucy voou na panela, e encheu o prato; Com a mesma pressa, ela começou a dar grandes garfadas, enfiando o macarrão na boca sem dar o intervalo necessário pra mastigar e engolir direito. Lizzie assistiu assustada. Lucy parecia esfomeada, como se não comesse a séculos.
Lizzie quase pensou que poderia finalmente voltar a respirar aliviada ao ver que Lucy aparentemente se satisfazia, mas se enganou assim que fez menção de sair da cozinha. Lucy parou o garfo no ar e se virou pra chamá-la.
- Eu só estou comendo essa porcaria porque estou com muita fome – disse com desdém. Lizzie apertou os punhos e respirou fundo, continuando de costas para Lucy. Controlando a raiva que crescia gradualmente dentro de si, ela pôde também sentir que a energia que vinha de Tito –este parado próximo a mesa de jantar- ficava cada vez mais notável, no entanto, ela percebia que ele parecia se divertir com aquilo. Lizzie não conversava mais com Tito como costumava fazer quando criança, e a bela voz grave dele quase caía em seu esquecimento, mas ela podia ouvir no fundo da sua mente uma risada satisfeita vindo da figura negra que a acompanhava.


Lizzie subiu para o terceiro andar onde além do quarto em que dormia, tinha outro cômodo que era usado como uma espécie de lavanderia; Havia na verdade uma máquina de lavar potente, uma secadora e o balaio com as roupas sujas. A menina separou as roupas coloridas, jeans e roupas brancas cuidadosamente, e fez questão de lavar primeiro (e a mão) o vestido que tinha usado no dia anterior.  Embora olhar o vestido tenha lhe trago a memória imediatamente o que acontecera com Zack, a raiva que sentia devido a toda aquela situação com Lucy brigava pela sua atenção.
Ela não podia negar que pensava na possibilidade de que aquela nova personalidade irritante e mesquinha de Lucy pudesse ser resultado de um processo de cura mal feito. Lizzie pôde sentir plenamente a invasão de uma energia negativa em sua conexão com Lucy, então... E se aquilo tivesse agregado à Lucy este novo comportamento que nada coincidia com o que a mulher era antes do seu despertar? Era perfeitamente possível e provável, e isso deixava Lizzie preocupada, pois ela não sabia se era um estado permanente ou se poderia melhorar – ou piorar.
Lizzie não sabia mais se sentia tanto orgulho do que tinha feito. Estava orgulhosa de si por ter dado saúde à Lucy, mas isso a transformara numa péssima pessoa, e ela não se incomodava com isso porque as más atitudes de Lucy a atingiam, mas sim por Martin, que não merecia uma filha tão fútil e inconseqüente.
Pensativa, Lizzie começou a não prestar mais atenção na sua tarefa. Apenas o vestido branco que levara primeiro e as peças de jeans foram lavadas corretamente, mas a menina por engano acabou misturando algumas roupas brancas com coloridas, e pior do que não ter  percebido que tinha feito isso, foi Lizzie não notar o resultado enquanto as tirava da máquina e botava na secadora: várias roupas brancas ficaram manchadas pelas coloridas, e as coloridas perderam tinta por conta do cloro.
Lizzie só foi perceber o problema quando Lucy, aos berros, apareceu na porta com os olhos arregalados.
- Caralho Lizzie, olha o que você fez!!! Oh meu Deus você estragou tudo!!!  - gritava agitada, levantando algumas peças no ar para analisar a gravidade do erro de Lizzie, que naquele instante, levava a mão à boca, incrédula na burrice que tinha feito – Mas será que você não sabe fazer nada garota? E agora?! Você fudeu as minhas melhores roupas! Você só pode ter feito isso de propósito, sua piranhazina – Lucy berrava cada vez mais histérica e Lizzie não sabia o que falar pra se desculpar ou como se explicar, até porque, ela só tinha ficado absorta e não prestara a atenção no que fazia.  Mas a forma como Lucy gritava com ela, não a deixava a fim de abaixar a cabeça e aceitar as criticas insultivas!
- Calma lá! Me desculpa pelo erro, mas não posso admitir você falando desse jeito comigo – exclamou. Lucy arqueou a sobrancelha surpresa com a reação de Lizzie que a encarava com firmeza. Lucy se aproximou, ficando a poucos centímetros da menina que ajeitou a postura na tentativa de ficar um pouco mais alta, e assim olhar à outra mais diretamente nos olhos. Lizzie não queria mais parecer submissa e sua raiva tentava consumi-la mais do que o sentimento realmente a preenchia. Energias negativas são mais fáceis de espalhar rapidamente.
- Que ousadia a sua Lizzie... Me empeitar dessa forma. Você por acaso se esqueceu a quem pertence o chão que você está pisando e o teto que cobre sua cabeça? – perguntou cruzando os braços, que chegavam a encostar-se a Lizzie de tão próximas que estavam.
- Não, eu não me esqueci. Pertence a Martin e continuarão pertencendo até ele morrer!  - respondeu, imitando o gesto de Lucy e também cruzando os braços. Lucy esboçou um sorriso de canto e fitou Lizzie ainda mais. As íris de seus olhos estavam completamente vermelhas num tom tão intenso que parecia brilhar. Lizzie jamais vira olhos como aqueles, nem mesmo em lentes decorativas.
- Você é mais esperta do que eu pensava... Esse seu jeitinho doce e frágil é pura falsidade, e só alguém ingênuo como o pai pra acreditar mesmo – sussurrou. Lizzie engoliu a seco, mas continuou com sua postura séria. A outra, de certo modo, estava certa quanto a sua afirmação, ela só não sabia se Lucy pensava aquilo desde sempre ou só quando “adotou” aquela nova personalidade – Mas isso é questão de tempo pra acabar...
- O que você quer dizer com isso?
- Que logo logo você não vai mais estar aqui!
- Isso é uma ameaça? Você pretende fazer alguma coisa? – Lizzie não tinha medo de Lucy, muito menos do que ela poderia fazer, mas a menina não queria magoar Martin e também não queria perder um lugar pra ficar, pois dificilmente conseguiria outro tão rápido.
- Eu?! É claro que não... Mas você vai – respondeu misteriosa com um sorriso. Lizzie olhou-a interrogativamente pronta para perguntar o porquê, mas Lucy continuou a sussurrar, interrompendo-a – Aliás, você já fez. Agora é esperar – a voz de Lucy não parecia estranhamente mais grave só pelo baixo volume. Lizzie franziu o cenho, observando-a sem entender. Lucy parecia convencida de alguma coisa, como se soubesse de algo que nem mesmo Lizzie tinha conhecimento. De qualquer forma, o jeito como a mulher falava e a olhava tão certa de si, a deixava receosa.  Depois de alguns segundos em silêncio e troca de olhares, Lizzie abaixou os braços e dei dois passos curtos para trás ainda fitando-a.
- Boa sorte então com as tarefas novamente – disse com sarcasmo antes de deixá-la sozinha. Lizzie foi até o quarto que dormia a lado e com grande pressa trocou o baby doll pelo vestido de renda preto que levava na sua mochila e jogou a mesma nas costas. Desceu as escadas com passos rápidos e saiu da casa sem olhar pra trás. Não queria pensar racionalmente no que estava prestes a fazer, até porque não sabia perfeitamente o que fazia. Lizzie só não queria mais ficar sozinha debaixo do mesmo teto que Lucy, não só porque não a agüentava mais, mas porque qualquer outro minuto ao seu lado poderia resultar em um novo acidente mortal. Todos os sentimentos negativos que sentia com certeza não acabariam em coisa boa, e em vários momentos em que estava empeitando Lucy no terceiro andar, Lizzie percebeu que Tito por várias vezes rondava Lucy como quem esperava só uma ordem ou um desejo interno pra tomar uma atitude.
Lizzie apressou-se em se afastar rapidamente da imagem da casa de Martin, e em poucos passos já estava na esquina da Chambeer’s Street com a Hamilton Ave. Olhou para os dois lados perdida em meio à sua explosão de pensamentos e emoções, e sem saber o que fazer ou aonde ir, Lizzie só conseguiu lembrar-se de um lugar onde gostaria de estar naquele momento.
Com um pouco de ajuda para encontrar o ônibus certo, ela conseguiu chegar à questão de 15 minutos em seu destino: WaterFront Park, mais exatamente, no jardim “escondido” do Riverview Plaza. Diferente do outro dia, as folhas secas tinha quase que caído todas das árvores, dando espaço para o nascimento de novas. Lizzie observou o lugar com um sorriso, sendo tomada imediatamente por uma sensação de paz assim como na primeira vez, mas a menina não reservou muito tempo pra admirar o jardim e foi direto até o cais, descendo com cuidado as escadas. Procurou a canoa de Zack, e a encontrou exatamente onde ele havia deixado no dia anterior.  Como não havia (novamente) mais ninguém por ali, ela não hesitou em tomar a liberdade de sair entrando na canoa; Jogou a mochila numa extremidade onde apoiou a cabeça ao deita-se. Olhando para o céu, ela notou que o sol se escondia atrás de algumas nuvens que não aparentavam nenhum perigo de chuva. O leve balanço da canoa devido ao rio e a brisa fresca que tocava sua pele a proporcionava uma calma sonolência, fazendo suas pálpebras caírem sem que notasse.
Lizzie estava aonde desejava estar, e não poderia ter escolhido lugar melhor mesmo se tivesse outras escolhas. Zack não estava com ela, mas a solidão lhe parecia confortável pelo menos ali naquele lugar e naquele momento. Quanto mais observava o céu e sentia a natureza coexistir consigo, mais Lizzie via suas energias negativas darem espaço a uma sensação de paz em seu interior... Toda essa tranqüilidade acabou fazendo-a adormecer.


- Lizzie!? – uma voz familiar masculina chamava pelo seu nome repetidamente bem ao fundo, e a cada segundo ia ficando mais alto. Lizzie abriu os olhos com preguiça, e conforme suas pálpebras se levantavam, a imagem do lindo rosto de Zack ia aparecendo a alguns centímetros na sua frente. Lizzie esfregou os olhos e despertou, e quando a visão deixou de ficar embaçada, ela pode contemplar perfeitamente desde os olhos verdes brilhantes até os lábios delicadamente desenhados de Zack, estes mesmos que chamavam pelo seu nome enquanto o rapaz a chacoalhava pelo ombro.
- Você está bem?! – perguntou preocupado, analisando-a. Lizzie se ergueu devagar, até ficar sentada, fazendo Zack se afastar um pouco de seu corpo, sentando na outra ponta da canoa.
- Sim – respondeu coçando a cabeça. Percebeu que havia anoitecido e não conseguia imaginar quantas horas estava dormindo, e agora Zack surgira ali de repente. Por sorte era ele e não um estranho qualquer, que ficaria bastante a vontade pra fazer qualquer maldade com uma menina aparentemente frágil dormindo sozinha numa canoa amarrada por uma corda num cais que ficava num lugar praticamente deserto. Maior sorte ainda foi o clima permanecer como estava desde a hora que Lizzie chegara ali evitando que o rio ficasse mais perigoso ou qualquer outro problema – C-como você me achou aqui? O que estava fazendo aqui? – perguntou curiosa depois de analisar a estranha situação.
- Quando saí do pedágio fui com Martin pra casa dele e não encontramos você por lá. Lucy disse que vocês tiveram uma pequena discussão e que você saiu alterada sem falar nada. Por algum motivo, achei que você tivesse vindo para cá e vim te procurar – explicou sem dar muitas pausas. Zack respirava ofegante e estava suado como quem acabara de correr uma maratona.  Ele estava de fato usando o macacão manchado que costumava vestir quando ia para o pedágio; Seus olhos estavam arregalados e ele olhava para os lados constantemente, parecendo preocupado – Fiquei com medo de que tivesse acontecido alguma coisa com você. Como que você vem pra um lugar como esse, sozinha? E ainda dorme tranquilamente? – franziu o cenho e sua voz tinha um tom de esporro. Lizzie ficou um pouco sem reação, ainda absorvendo as palavras e a presença surpresa de Zack; Por dentro ela ficava feliz pela preocupação do rapaz, a mais ainda em saber que ele tinha saído à procura dela. Por fim, deixou escapar um riso tímido.
- Não se preocupe, eu estou bem. Melhor agora – disse. Zack passou a mão pelo rosto de Lizzie, e depois colocou algumas madeixas de cabelo dela atrás da orelha da menina, deixando seu rosto mais visível. Ela corou – Então vir me procurar aqui foi sua primeira ou única opção?
Uma brisa refrescava o ambiente junto a um cheiro agradável de água doce e uma lua cheia brilhava no céu escuro.
- Não consegui pensar em outro lugar. Aqui era a minha esperança – respondeu sorrindo – Eu sabia que esse lugar ia te conquistar – o sorriso deu espaço a uma expressão mais séria. Os olhos de Zack fitavam intensamente os de Lizzie, que inconscientemente também o encarava. Ela ficou alguns segundos em silêncio e depois umedeceu os lábios com a língua:
- Não foi só o lugar... – As palavras de Lizzie surtiram um efeito imediato. A mão de Zack no rosto da garota agarrou a nuca da mesma, puxando-a pra si em um beijo ardente. 
Na manhã seguinte Lizzie mal podia acreditar no que havia acontecido na noite que acabava de dar espaço a um sol tímido por trás de algumas nuvens cinzentas: Ela e Zack tinham feito sexo.  Ela acabava de acordar e as lembranças daquela noite ainda lhe eram claras como se tivessem acabado de acontecer.
Os dois estavam deitados na canoa e seus corpos nus eram relativamente cobertos de qualquer jeito pelas roupas que haviam tirado. Lizzie levantou os olhos para ver se Zack ainda dormia, mas como sua cabeça estava deitada sob o peito do rapaz, seu campo de visão não alcançava o rosto dele - pela forma como ele respirava calmamente e não movia o corpo, ela suspeitou que sim. Lizzie também se perguntou mentalmente se Zack sonhava com ela ou com o que haviam feito, assim como tinha acontecido com enquanto dormia. As cenas daquele que havia sido o momento mais erótico e romântico de sua vida embalaram seus sonhos durante toda a madrugada, e isso só ajudava a reforçar as lembranças quando a menina acordou.
Tudo tinha acontecido de uma forma muito natural e intensa; Depois do beijo, as carícias que começaram na nuca e no rosto elevaram-se às partes mais íntimas do corpo, primeiramente no de Lizzie. Zack a tocava com carinho e cuidado como se ela fosse um artefato frágil e valioso, mas mesmo com esse receio todo, o rapaz sabia como excitá-la de forma rápida e eficaz. Lizzie que jamais tivera tanta intimidade ficou surpresa em ver como ela respondia involuntariamente às atitudes de Zack na mesma medida que ele, e em nenhum momento pensou em relutar contra o que estava prestes a acontecer. Sua mente e seu corpo desejavam ter aquele prazer. Lizzie não sabia quando teria uma oportunidade como àquela novamente, e principalmente, quando teria a chance de fazer sexo com alguém que ela realmente gostasse e que ela achava que se importava verdadeiramente com ela. Era um momento importante da sua vida já que era virgem, e as circunstâncias para seu primeiro sexo eram maravilhosas: estava com um garoto lindo e gentil num lugar diferente e fabuloso. Não havia porque se arrepender daquilo, pois tudo conspirava estranhamente bem para que aquela fosse uma bela memória.
Como estavam na canoa, eles não puderam extravasar demais nos movimentos para que o mesmo não balançasse demais, então Zack se limitou a manter seu corpo só por cima do de Lizzie, deixando, portanto seu baixo ventre no meio das pernas da menina. Ele a penetrou delicadamente e devagar enquanto a beijava ou acariciava seu corpo. Lizzie mal acreditou com a dor quase imperceptível que teve quando sentiu seu hímen se romper – ela imaginava algo realmente doloroso e jorras de sangue – mas nem mesmo havia saído sangue o suficiente para que eles se incomodassem.
Após uns quinze minutos, ao perceber que Lizzie sentia-se extasiada de prazer, Zack se permitiu gozar. Ela abafou um riso quando o viu revirar os olhos e se contorcer totalmente, para então desabar ao seu lado. Ela apoiou a cabeça em seu peito e rapidamente os dois adormeceram. Só o WaterFront Park e uma lua cheia incrivelmente brilhante haviam sido testemunhas do que eles tinham feito e viram naquela noite duas pessoas selarem algo que pelo menos pra Lizzie não tinha como mais negar... Estavam apaixonados. Ela só não sabia o que era maior: sua felicidade por experimentar um sentimento como aquele ou seu medo por temer o que sentiria caso algo acontecesse com Zack.
Mas se antes Lizzie suspirava ao relembrar a noite anterior, em questão de segundos ela mudou sua expressão tranqüila por uma mais assustada quando seus olhos encontraram a figura negra de Tito parado sob o cais bem ao lado da canoa. Ele os “olhava” de cima, como se observasse os dois ali deitados, e pela primeira vez após sua saída da casa de Martin, Lizzie sentiu a tensa energia da criatura que a acompanhava, energia essa que quando sentida dava a impressão de que o peito de Lizzie doía por um aperto em seu pulmão e coração, além de que todos os seus pêlos se eriçavam e a menina era logo tomada por uma forte sensação de pessimismo e desconfiança. Lizzie às vezes lamentava por não conseguir mais conversar com Tito como fazia quando criança, pois era desesperador falar e gritar com a sombra e não obter uma resposta.
Lizzie ainda encarou a figura negra estática, mas desviou o olhar irritado quando percebeu que Zack acordara. O rapaz bocejou, esfregou os olhos e ao notar Lizzie acordada, sorriu. Ela retribuiu e se sentou na canoa, permitindo que Zack fizesse o mesmo. Só naquele momento a garota percebeu que ainda estavam nus, e subitamente ela ficou envergonhada, puxando uma peça de roupa pra cima de sua genitália e se abraçando a fim de esconder os seios. Zack riu ao perceber o constrangimento sem sentido da garota considerando o que haviam feito.
- Você está bem? – perguntou gentilmente. Ela assentiu com um sorriso tímido, mas continuava espiando a imagem de Tito por cima do ombro de Zack que estava meio de costas para o mesmo. Ela sabia que o garoto não podia vê-lo, então tentou disfarçar enquanto prestava atenção em Tito – O tempo não parece muito bom. Acho melhor irmos antes que a gente acabe pegando uma chuva de novo! – exclamou enquanto olhava o céu acinzentado.
Sem roupa, obviamente Lizzie sentia mais frio que o normal; O clima de Trenton era naturalmente gélido, e sem proteção era ainda pior. Lizzie sentia calafrios e alisava os braços na tentativa de causar atrito, mas ela não fazia o mais óbvio que era colocar as roupas de volta, e isso porque estava absorta com a presença de Tito. De repente, algo que a incomodava constantemente voltou a sua mente, e as palavras saíram de sua boca sem nem perceber:
- Qual é o seu lance com a Summer? – perguntou num tom irritado, fitando Zack numa expressão aborrecida que não condizia com seu estado há poucos minutos antes. O rapaz franziu o cenho sem entender o comportamento repentino de Lizzie e engoliu um seco.
- Porque essa pergunta? Porque agora? – sua voz tremeu.
- Isso não importa... Porque você simplesmente não responde?
- É realmente importante pra você saber alguma coisa sobre a Summer?
- Não. É importante saber qual é a relação dela com você, isso sim!
- E porque você acha que tem que ter alguma relação?
- Para de me responder com outra pergunta e responde droga! Sua hesitação em responder só aumenta minhas suspeitas de algo talvez ainda pior do que eu imagino – esbravejou.
- Quais são suas suspeit... – antes de terminar outra pergunta, Zack percebeu que Lizzie estava prestes a interrompê-lo com outro esporro – Eu não acredito nisso... Não acredito que está fazendo isso depois do que tivemos essa noite! – Zack, cabisbaixo, balançava a cabeça negativamente. Por um segundo Lizzie quase se sentiu mal, mas sua vontade de esclarecer aquela situação falava mais alto. Era como se ela tivesse um nó na garganta e simplesmente não ia parar de insistir nas perguntas até ter sua resposta.
- Eu só não quero pensar que fiz sexo com alguém comprometido – disse um pouco mais calma com uma voz mansa. Zack voltou a encará-la e mordeu o lábio.
- Então é por isso que você quer saber? Pra ficar com a consciência tranqüila? – perguntou aparentemente decepcionado. Lizzie hesitou antes de responder “não” imediatamente, mas por algum motivo, ela não queria demonstrar quão envolvida ela estava naquela estranha relação que eles estavam criando. Ela sabia pouca coisa a respeito de relacionamentos, mas se tinha algo que Lizzie sempre ouvia era como os homens ficavam mais indiferentes quando a garota expressava seus sentimentos.
- É... Mais ou menos – respondeu por fim tentando não parecer dura demais.
- Sendo assim, então pode ficar tranqüila. Eu não estou tendo nenhuma relação física ou sentimental com a Summer! – Zack tinha a voz mais firme e até a sua postura mudara.
- Não está tendo, mas já teve?
- Não.
- Eu não acredito Zack. Pelo jeito como vocês se comportam juntos, não é possível que não exista ou tenha existido algo entre vocês!
Zack fechou os olhos e respirou fundo por um segundo antes de falar com a expressão mais desanimada que já tinha feito:
- Summer e eu somos irmãos. Pronto.