#AUTORA                       

Capitulo #1





Andar "sozinha" mundo a fora sem nenhum conhecimento ou experiência sobre o mesmo seria algo realmente difícil para uma pessoa normal, o que certamente, Lizzie Horn não era. Seu estilo de vida retraído certamente a faria presa fácil para as armadilhas do mundo, mas ela contava com algo que ninguém mais que ela conhecia possuía... Algo que lhe fazia ser diferente.
Lizzie não era apenas atormentada por almas perdidas e inquietas que normalmente acompanhavam uma coleção de atividades paranormais, como tais ruídos, barulhos e desaparecimento de objetos; A garota também contava com outros tipos de artifícios das quais nunca pedira ou comprara. Apenas nascera com ela.
Ela não se enturmava porque não queria, afinal, quem gosta de uma vida tão exclusa? O problema de Lizzie em se misturar com as outras crianças era o medo de machucá-las. Não seria ela propositalmente que faria isso, mas sim aquela figura negra que lhe acompanhava desde sempre. "Tito", como o nomeou quando tinha 7 anos, não era como os outros espíritos que a visitavam em sonho ou pessoalmente, ele era mais possessivo, nervoso. Ele parecia reagir com mais intensidade de acordo com os sentimentos negativos de Lizzie, como a raiva ou a angustia. Das vezes que ela se exaltou com alguém da escola que a gozava, ou até mesmo com sua mãe, alguém saia ferido, e não era por suas mãos, mas sempre de forma estranha.
Deste modo, ela preferiu se distanciar das pessoas, afim de não criar qualquer sentimento por alguém. E da única vez que se permitiu fazer isso, mesmo não tendo sentido algo ruim, a pessoa acabou morta: Fabrizzia.

Além de Tito e suas formas obscuras de dar uma lição em que se envolvia com ela e da capacidade de ver e conversar com almas viajantes (aquelas que ainda não partiram para o outro plano), Lizzie despertara também outras habilidades como a manipulação da realidade nos olhos de uma pessoa, ou seja, ela conseguia não só omitir informações sobre algo ou alguém, como implantar novas à seu favor. Esta capacidade, porém, acontecia somente em situações de risco e perigo... Era algo espontâneo. Diferente da sua habilidade de auto cura, pouco desenvolvida já que Lizzie não a manipulara decentemente. A principio, ela conseguia somente se curar de arranhões, torções, queimaduras leves e cortes não muito profundos. Certa vez, Lizzie perguntou à sua mãe da onde viera tais 'poderes', e como resposta obteve um arrogante "Me agradeça.. ou não!", e nunca mais tocara no assunto. Aliás, assunto não era algo constante na sua relação com a mãe Teresa. A mulher de 35 anos que mais parecia ter 50, havia perdido sua instabilidade mental à anos, e se mantia erguida por motivos que Lizzie não conhecia, pois nunca via a mãe comer ou dormir. Ela vivia sempre no porão ou no meio do campo. Pouco sabia sobre sua mãe, e o que soube, foi de fofocas da escola.
"Minha mãe disse que sua mãe era uma macumbeira que chegou à cidade grávida e sozinha!" comentou uma menina da turma certa vez. "É, eu ouvi falarem que sua mãe foi estuprada pelo diabo" acrescentou o garoto ao lado. Porém, Lizzie não sabia nada de concreto a respeito de sua própria geração ou da vida de Teresa antes de parí-la. Não havia nenhum álbum de fotos disponível na mobília da sala, ou porta retrato de seu pai desconhecido. E perguntar pra Teresa sobre isso? Nem pensar.



- Oi.. Será que você pode me dar uma carona até Trenton? - perguntou numa voz frágil, encarando o caminhoneiro sentado atrás do volante com sua enorme barriga e roupas mofadas. Não ligou para a expressão maliciosa do homem, muito menos para as garrafas de álcool jogadas logicamente recém utilizadas pelo mesmo, o que indicava que ele certamente estaria embriagado. Qualquer carona é arriscada, mas aquela declarava perigo. Ainda assim, Lizzie não hesitou e vendo que o homem concordara com a "ajuda", entrou no caminhão e sentou-se ao seu lado no banco do carona, ignorando o olhar do motorista que a analisava por inteira. A calça jeans desbotada por baixo do vestido preto de alças não era o tipo de roupa mais sexy, mas era suficiente pra qualquer tarado.
Havia andado horas até a estrada principal depois que deixou o orfanato, e mais alguns minutos de pé tentando arrumar uma alma caridosa que lhe cedesse espaço no carro. Tudo bem que aquele ali, provavelmente, não era nenhuma alma caridosa, mas Lizzie estava exausta e precisava entrar em algum automóvel antes que caísse a noite e a rodovia se tornasse o cenário perfeito de um assassinato.
Cerca de 20 minutos depois de dar partida, ele puxou assunto:
- Vai fazer o quê em Trenton? - a voz do homem era rouca, tinha um forte sotaque sulista e bafo de cerveja com bacon.
- Visitar um amigo - mentiu sem olhar para o caminhoneiro. Seus olhos estavam atentos para a rodovia, diferente dele, que não prestavam atenção alguma ao movimento à sua frente, fazendo curvas e cruzamentos perigosos.
- E é uma visita surpresa ou ele te espera? - insistiu ele na conversa, curioso.
- Ele sabe - respondeu seca, já entendendo aonde o cara queria chegar com aquelas perguntas. Se a tal visita à esse tal amigo realmente existisse e fosse uma surpresa, caso ela não aparecesse, ninguém sentiria falta mesmo e ele então poderia fazer o que quisesse que não daria em nada, afinal, não havia testemunha ou prova alguma sobre a entrada da garota no caminhão.
- E ele é só um amigo mesmo.. ou seria seu namorado? - ele deu um riso pervertido.
- Só um amigo...
- E quantos anos você tem, moçinha?
-  Dezoito.

 Mesmo ignorando o homem e mantendo o rosto virado para frente, Lizzie pode ver o homem morder o lábio inferior com a visão periférica, e sua intuição alarmava freneticamente naquele instante; Ela também pôde sentir uma energia ainda mais intensa vinda de Tito, que à aquela altura, também sabia no que tudo aquilo iria dar.
Ela então percebeu que o cara começara a frear o veículo, encostando-o de qualquer jeito na rodovia à margem das árvores.
- Algum problema?  - arriscou inocentemente, abraçando a mochila contra seu corpo.
-  Problema nenhum.. Pelo contrário! - exclamou antes de puxar o freio de mão e, praticamente, se jogar para cima de Lizzie. Seu mau cheiro ficou ainda mais notável enquanto ele tentava aproximar os lábios no rosto e pescoço da garota; Suas mãos agarraram com brutalidade o corpo de Lizzie, puxando-o em direção ao seu ao mesmo tempo em que tentava abrir selvagamente o jeans dela. Lizzie se debatia e gritava, inutilmente, pois ninguém iria parar ali. Conseguiu arranhá-lo no rosto quando ele tentou apalpar seus seios, o que o irritou, fazendo-o instantaneamente dar um soco perto de seu olho. Tonta com a força da agressão, Lizzie não conseguiu escapar quando ele a beijou, invadindo seus lábios com uma língua grande e áspera; Nesse momento, ele já conseguira arrancar o botão da calça dela, abrindo-a e passando sua mão grossa e com calos por dentro da calçinha que ela usava. O homem então abaixou as próprias calças até as coxas, tentou se posicionar desengonçadamente em direção ao baixo ventre da menina e quando ia retirar seu pênis já ereto para penetrá-la, Lizzie retomou a consciência e, desesperada, imaginou a cabeça do homem ser arrancada num rápido golpe, espirrando sangue por todo o interior do caminhão e fazendo o corpo cair morto em cima do seu. E de forma bizarra, a imaginação virou realidade e a cena aconteceu diante de seus olhos. A cabeça do homem rolara pra debaixo do painel e ela agora empurrava o corpo dele para poder se sentar.
Lizzie não sabia como tal coisa acontecera, mas se sentia aliviada. Ser estuprada por criatura tão repugnante seria um trauma que não precisava, e uma pessoa como ele, não faria falta no mundo, certo?!
A rodovia não estava com tráfego intenso, e Lizzie havia percebido minutos atrás uma placa anunciando que Trenton estava à apenas 4 km de distância dali. Poderia esperar o sol nascer, abandonar o caminhão ali mesmo na estrada e caminhar até a cidade, mas um veículo daquele tamanho parado na rodovia não ficaria despercebido por muito tempo. Afim de não despertar nenhuma suspeita, Lizzie puxou o freio de mão, rodou a chave, desceu do caminhão e usou o peso do corpo do homem morto para segurar o acelerador. Empurrou a porta do motorista e viu o veículo começar a disparar pra frente, saindo totalmente da estrada e caindo ribanceira abaixo, causando uma colisão seguida de explosão, a qual ficou observando por alguns minutos.
Tirou uma toalha da mochila, limpou os respingos de sangue de seu rosto e começou a caminhar pelo acostamento da estrada usando o luar e os faróis dos poucos carros que passavam por alí como iluminação.


Foram quase 4 horas de viagem contando a partir de Pennsylvania (cidade em que ficava o orfanato). Havia pego a carona com o caminheiro morto na região de Bloomsburg, e a explosão aconteceu perto da Pennsylvania Turnpike. Dalí, Lizzie caminhou até a saída 339-359 em direção à New Jersey, o que levou cerca de 1 hora e 20. O sol começava a dar sinais de que nasceria, e um belo tom entre o amarelo e o azul começou a aparecer no horizonte.
As manchas de sangue que espirraram na roupa de Lizzie já tinham secado, e um odor não muito agradável também foi despertado. Lizzie não estava em seu melhor estado: suada, suja, cansada, com sede e fome. Foi quando passava pelo pedágio próximo a entrada de New Jersey que alguém pôde vê-la com atenção para estranhar sua aparência.
- Ei, garota, venha aqui! - exclamou um dos homens que aparentemente trabalhava no pedágio, provavelmente, um segurança. Ele era alto, gordo, negro, usava uniforme e tinha uma pistola pendurada no coldre da coxa. Ao notar que havia sido percebida, Lizzie precisou elaborar uma história rapidamente para dizer caso fosse perguntada sobre algo. Se aproximou do homem e forçou uma expressão mais perturbadora.
- Aconteceu alguma coisa? - ele perguntou preocupado, observando as manchas de sangue pelas vestes dela.

- Eu.. Eu.. Um homem.. Tentou me violentar... - fingiu gaguejar inocentemente enquanto tentava fazer os olhos marejarem.
- Quê? Onde? - o homem ficou eufórico, involuntariamente, levando a mão até a arma como se fosse encontrar o molestador naquele minuto.
- Já faz alguns minutos.. Não foi aqui...
- Você sabe aonde aconteceu? E como isso aconteceu? Como escapou? - continuou perguntando ainda agitado, olhando para todos os lados como se tentasse achar o tal estuprador
- Foi depois de Pennsylvania... Ele... Ele ia me dar uma carona...  - Lizzie usava uma voz mais frágil que o normal, cabisbaixa e forçando um choro falso que convencia.
- Oh querida! Carona em rodovias nunca é seguro, ainda mais a noite! Você estava sozinha? Pra onde estava indo? Cadê seus pais? -  agora ele estava mais tranquilo, voltando a observar a menina à sua frente com um olhar solidário, como se ela fosse uma criança.
- Eu sou or-orfã.,. Estava indo embora do orfanato... Ia... Ia atrás de um conhecido em Trenton...
O homem levou uma mão ao ombro de Lizzie, e ficou olhando-a com pena por mais alguns segundos.
- Hmm, ok. Eu vou conseguir uma carona SEGURA pra te levar até lá. Você sabe aonde mora exatamente este conhecido?
- Não.. Só tenho o nome dele... Mas eu posso procurar... N-não tem problema...
- Mas como assim menina?! Aonde você vai dormir, comer, se banhar ?
- B-bem...  eu posso me virar... - Lizzie enxugava as falsas lágrimas e tentava se mostrar mais forte ao mesmo tempo em que condensava com uma imagem sensível.
- É, tô vendo que pode - disse ironicamente - Vamos! Eu vou pedir para um amigo do serviço te levar à um lugar em Trenton que poderás te receber. Mais tarde irei te levar na delegacia pra você fazer um retrato falado desse pervertido e depois procuraremos esse seu conhecido, ok?!
O sorriso extremamente branco do segurança era muito reconfortante, e pela primeira vez desde começou aquela cena, Lizzie se atreveu a esboçar um sorriso.
- Tá bem!

Ela quase não acreditou na facilidade de como o homem aceitou sua história e agora a ajudava não só a chegar a seu destino, como também forneceria um lugar para ficar.

O segurança então a levou até a oficina do pedágio, onde começou a procurar por alguém chamado Zack. A porta de um banheiro se abriu, e de lá saiu um rapaz jovem com cabelos à altura dos olhos verdes, que provavelmente não era segurança pois não possuía nenhuma arma e nem uniforme.
- Zack, essa menina sofreu um acidente e está sozinha. Leve-a até à casa da Lucy, diz que ela ficará hospedada por uns dias eque mais tarde irei lá para explicar. Pode fazer isso ?
- Uhum! - respondeu enquanto analisava Lizzie com um olhar desconfiado.
- Qual o seu nome mesmo, moçinha? - o segurança perguntou.
- Lizzie .. Lizzie Horn.
- Tá certo, Lizzie... Você estará segura com o Zack. Eu acho - brincou, fazendo Zack revirar os olhos - Vejo você mais tarde. Tchau e se cuida! - o segurança se despediu com mais um daqueles super sorriso.
- Vem, por aqui - chamou Zack, andando em direção aos fundos da oficina onde tinha um carro. Abriu a porta do carona para a menina e depois entrou, dando partida imediatamente - O que aconteceu exatamente com você mesmo? Se quiser falar, claro - perguntou olhando para o sangue na roupa dela.
- Tentaram me estuprar - respondeu seca, sem encará-lo, diferente de como quando falava com o segurança.
- Puxa!  E você conseguiu escapar ilesa é?! - Zack começava a acelerar o carro, já deixando o pedágio pra trás.
- Sim, eu arranquei um pedaço da orelha dele mordendo e consegui sair do caminhão - mentiu.
- Nossa! Que sorte a sua... No fim das contas.
- Uhum...
- E você estava indo pra Jersey mesmo?
- Sim, estou a procura de uma pessoa de lá, em Trenton. Mas não sei onde ela mora exatamente, por isso ele vai me ajudar.. Qual o nome dele mesmo? - perguntou se referindo ao segurança.
- O nome dele é Martin, mas todos os chamem de Baby... Ele não gosta, claro - respondeu com um sorriso, exibindo dentes brancos e perfeitos. Lizzie tentou não olhar demais para o garoto - E qual o nome dessa pessoa que você está procurando?
- Raul. Conhece alguém com esse nome?
- Hmmm... Acho que não - Zack mordeu o lábio inferior pensando, mas continuou balançando a cabeça negativamente - Depois a gente procura saber.
- Obrigada... Por tudo - disse tímida.
Zack a encarou com um sorriso de canto e a sobrancelha arqueada.
- Agradeça ao Baby!
Os dois ficaram calados por todo o percurso, que durou pouco menos de 20 minutos. Trenton não tinha prédios ou grandes construções. A maioria das casas era meio colonial de tijolinhos e todas as ruas possuíam árvores. Havia escolas, prisão, alguns comércios, mas era basicamente uma cidade de moradias.
Quando estavam na Chambers Street, Zack estacionou o carro em frente à uma casa cor de barro de 3 andares.
- Chegamos! Casa da Lucy - anunciou puxando o freio de mão.
- Quem é a Lucy?
- Ela é filha do Baby... Ela é muito bacana, mas... Ela é cega, então não estranhe se não estiver acostumada - respondeu sem jeito.
- Sem problemas.
Zack e Lizzie saíram do carro, subiram os degraus da varanda da casa e tocaram a campainha. Considerando que era muito cedo (por volta das 7 da manhã), demorou um pouco pra se ter alguma resposta. "Um momento"- ouviu-se uma voz fina de dentro da casa, e logo depois uma moça apareceu cautelosa pela brecha da porta. Ela era alta, magra, tinha cabelos volumosos e encaracolados. O sorriso era idêntico ao pai.
- Olá!? - exclamou.
- Oi Lucy, desculpe bater na sua porta à essa hora...
- Ah... Oi Zack! Aconteceu alguma coisa? - Lucy então abriu a porta totalmente ao saber de quem se tratava, pela voz, claro.
- Mais ou menos... Estou com uma pessoa ao meu lado.
- Oi - Lizzie falou, um pouco sem graça.
- Sua namorada, Zack? - perguntou Lucy ainda sorrindo.
- Er... Não não!- respondeu imediatamente tímido - Seu pai pediu pra você recepcioná-la e mais tarde ele te explica!
- Aaaah sim, desculpa! - riu.
- Prazer, meu nome é Lizzie - falou erguendo a mão, esquecendo que a menina não poderia ver. Ficou novamente sem graça, fazendo Zack segurar uma risada.
- Prazer Lizzie, sou Lucy. Venha... entrem! - ela se afastou da porta, dando espaço para que passassem.
Lucy andava pela casa como se pudesse enxergar normalmente; Obvio que tudo era planejado para facilitar sua movimentação e rotina, mas ainda assim, se Lizzie não soubesse que a garota era cega, não teria percebido, principalmente quando Lucy lhes serviu o café com tanta facilidade.
Lizzie contou novamente sua versão da história, deixando Lucy comovida. Zack observava quieto e com atenção.
- Graças a Deus você escapou! - exclamou a menina com as mãos entrelaçadas sob o peito.
- É...
Não era bem à Deus que Lizzie agradecia o fato de ter fugido. E por falar em Deus, era bastante visível que Lucy era uma pessoa muito cristã, pois a casa possuía muitas imagens e pequenos enfeites de santinhos e crucifixos, o que deixava Lizzie estranhamente desconfortável, e pela energia que ela sentia de Tito, ele mais ainda.
Após o café, Lucy emprestou uma toalha e um vestido para Lizzie poder usar. Antes de tomar banho, porém, ela se despediu de Zack, que já devia ter retornado ao pedágio a muito tempo.
- Obrigada pela carona... De novo - disse com um sorriso de canto.
- Não é a mim que deves agradecer... Mas, tudo bem. Nos vemos por aí! - respondeu com um tom que mais parecia uma pergunta.
- Nos vemos ?
- Aham... Se cuida Lizzie! - assentiu antes de dar um beijo na bochecha de Lucy e sair.
Lizzie o observou entrar no carro e partir antes de ser guiada por Lucy até o banheiro.
- Fique o tempo que achar necessário! Ah... A banheira é ótima! - avisou gentilmente antes de fechar a porta.
A menina se despiu, colocando a roupa suja de sangue dentro da mochila que ainda carregava e abriu as torneiras da banheira, deixando uma água morna cair. Quando cheia, Lizzie entrou na mesma e deitou-se, se permitindo relaxar e curtir aquele momento delicioso por quase 15 minutos.

Em outro canto da casa, num tipo de altar improvisado, Lucy se ajoelhava diante de uma grande imagem de Nossa Senhora com o menino Jesus.
"Senhor, obrigada por mais esse dia que nasce... Obrigada por eu estar de pé e pela saúde de todos aqueles que eu amo. Peço que o Senhor agora proteja nossa visita, a Lizzie, essa menina doce que passou por algo horrível esta noite. Que o Senhor a abençoe e gere proteção em torno dela... Para que nada de ruim a aconteça e que todos os maus espíritos se afastem de..."
Neste exato momento, Lucy sentiu seus olhos arderem repentinamente, como se pequenas chamas de fogo atingissem-no. Era uma dor que acompanhava uma estranha sensação de medo, angustia e sofrimento; Uma dor que durou apenas 2 minutos, mas que fora suficiente para fazê-la chorar, e que só parou no momento em que ela gritou desesperada: "Me proteja, Senhor!".