#AUTORA                       

Capitulo #2








Após o banho, Lizzie dormiu até o fim da tarde. Lucy oferecera um dos quartos vagos do terceiro andar; Era espaçoso e muito confortável. Lizzie ficou imaginando o porquê da deficiente viver numa casa tão grande, se provavelmente, moravam apenas ela e o pai.
Quando acordou, o sol começava a se por, e Lizzie ficou na cozinha auxiliando Lucy à preparar o jantar. Enquanto a primeira cortava desajeitamente a salada, a outra cozinhava o arroz com facilidade, porém, parecia um pouco tensa. Lizzie percebera a expressão de Lucy assim que saíra do banheiro mais cedo.

- Você acredita em Deus, Liz? - perguntou Lucy depois de muito tempo em silêncio. Mesmo estranhando a pergunta, Lizzie gostara da forma como a garota lhe chamara. Ninguem nunca lhe dera apelidos carinhosos ou algo do tipo.

- Bem, sinceramente, eu não sei no que acredito - respondeu pensativa, mas sincera. Lizzie nunca fora religiosa, se quer fora apresentada à alguma religião ou frequentara alguma igreja, e tudo o que já havia acontecido em sua vida não ajudava à fazer dela uma menina de fé.

- Mas... Você acredita no mal?

- Você quer dizer... No Diabo?

- É. Eu não gosto de falar o nome dele.

- Ah, perdão. Bem, eu só tenho certeza de uma coisa: Tem coisas que estão além do nosso entendimento, mas com certeza, o mal existe. Ele está no meio de nós o tempo todo - Lizzie pensou instantaneamente em Tito, que por sinal, ela não sentia presente naquele momento.

- É, exatamente... - concordou Lucy num tom obscuro, voltando a se concentrar no arroz.
As 19:00 hrs, Martin chegou em casa com Zack ao seu lado. A mesa do jantar já estava preparada e as garotas os aguardavam na sala de estar, onde assistiam Tv. Melhor dizendo, Lizzie assistia e Lucy fazia compania.

- Boa noite meninas! - exclamou Martin sorrindo ao aparecer na sala. Zack vinha atrás segurando uma caixa de ferramentas, que pousou num canto e acenou.

- Oi pai! Como você está ? Estão cansados, com fome? Lizzie me ajudou com o jantar. Está ótimo, né Liz? - Lucy falava animada, levantando imediatamente para receber um abraço do pai, que a beijou na testa.

- Estamos mesmo! - Martin soltou Lucy e também abraçou Lizzie, que recebeu o ato inesperadamente - Vejo que você já está familiarizada com nossa hóspede! Que bom.

Lizzie, pela primeira vez, sentia-se culpada pela mentira que estava vivendo e contando à aquela gente humilde e simpática. Sentia-se uma pilantra, uma oportunista sem carater que abusava da bondade de gente inocente.

- Zack ficará hoje conosco, pois vou levar Lizzie à delegacia após o jantar para fazermos o retrato falado do infeliz que tentou machucá-la, e aí ele fica com você Lucy, ok? - avisou Martin enquanto lavava as mãos na pia da cozinha antes de se sentar para jantar. Lizzie assentiu, mas desconfortável.

- Eu disse que nos veríamos de novo - cochichou Zack ao se sentar na cadeira ao lado de Lizzie.

- Você é tipo o escudeiro do Martin? - brincou.

- Pode se dizer que sim - Zack riu - Ele é como um pai... Pra todo mundo! - continuou num tom meloso enquanto se servia de uma grande colher do ensopado de carne. Lizzie concordou, olhando rapidamente para Martin com um sorriso.
Aquele ambiente familiar e aconchegante era totalmente inédito para ela, mas era bom.. Muito bom!
As 19:00 hrs, Martin chegou em casa com Zack ao seu lado. A mesa do jantar já estava preparada e as garotas os aguardavam na sala de estar, onde assistiam Tv. Melhor dizendo, Lizzie assistia e Lucy fazia compania.

- Boa noite meninas! - exclamou Martin sorrindo ao aparecer na sala. Zack vinha atrás segurando uma caixa de ferramentas, que pousou num canto e acenou.

- Oi pai! Como você está ? Estão cansados, com fome? Lizzie me ajudou com o jantar. Está ótimo, né Liz? - Lucy falava animada, levantando imediatamente para receber um abraço do pai, que a beijou na testa.

- Estamos mesmo! - Martin soltou Lucy e também abraçou Lizzie, que recebeu o ato inesperadamente - Vejo que você já está familiarizada com nossa hóspede! Que bom.

Lizzie, pela primeira vez, sentia-se culpada pela mentira que estava vivendo e contando à aquela gente humilde e simpática. Sentia-se uma pilantra, uma oportunista sem carater que abusava da bondade de gente inocente.

- Zack ficará hoje conosco, pois vou levar Lizzie à delegacia após o jantar para fazermos o retrato falado do infeliz que tentou machucá-la, e aí ele fica com você Lucy, ok? - avisou Martin enquanto lavava as mãos na pia da cozinha antes de se sentar para jantar. Lizzie assentiu, mas desconfortável.

- Eu disse que nos veríamos de novo - cochichou Zack ao se sentar na cadeira ao lado de Lizzie.

- Você é tipo o escudeiro do Martin? - brincou.

- Pode se dizer que sim - Zack riu - Ele é como um pai... Pra todo mundo! - continuou num tom meloso enquanto se servia de uma grande colher do ensopado de carne. Lizzie concordou, olhando rapidamente para Martin com um sorriso.
Aquele ambiente familiar e aconchegante era totalmente inédito para ela, mas era bom.. Muito bom!
Durante o jantar, os 4 conversaram basicamente sobre o dia de trabalho de Martin, que naquele dia havia sido bastante tumultuado, começando logo cedo com a aparição de Lizzie; Além disso, um pequeno acidente acontecera e e um homem havia se exaltado com um dos funcionários do pedágio. Mesmo com toda a animação de Martin em contar sobre o seu dia, não foi possível deixar de perguntar sobre a vida de Lizzie, que comentou brevemente sobre o orfanato, o fato de não saber quem era seu pai e mentiu sobre como sua mãe morrera; Disse que ela havia sido assassinada por um drogado que tentara rouba-la.

- Trágico! - exclamou Lucy com aquela expressão chocada.

- É realmente triste ver como o mundo de hoje está maluco e perigoso.. - Martin balançava a cabeça negativamente com os lábios contraídos. Zack, como sempre, apenas ouvia atencioso sem acrescentar nada.

Ao fim da refeição, as meninas recolheram a mesa e lavaram a loça. Enquanto isso, os homens se banhavam, e 20 minutos depois Martin já aguardava Lizzie para levá-la à delegacia. Zack, agora limpo e sem o macacão, ficou na sala assistindo Tv e conversando com Lucy.

A visita à delegacia também não demorara muito. Lizzie contou novamente a historia que havia inventado, mas na hora de fazer o retrato falado, detalhou as feições e características reais do caminheiro que matou, assim como a aparência do veículo dele.
As 22:15 hrs eles já se encontravam de volta à casa, e Martin que estava mais que aparentemente exausto, correu para a cama depois de dar boa noite a todos. Lucy fez o mesmo, deixando Zack e Lizzie na sala assistindo Tv.
- Boa noite... E juízo! - brincou Lucy subindo as escadas. Zack revirou os olhos como fazia sempre que o zuavam, mas corou ao olhar Lizzie de canto, que também ficara tímida.

- Eles acham que eu sou o quê? Um tipo de tarado ou pervertido? - Zack arqueou a sobrancelha e fez uma voz de desdém, mas ao perceber que da forma que falou podia parecer que havia desfeito totalmente da garota, e tentou consertar: Não que você seja feia... Sabe.. Mas.. Bem, você agora até que está otima... A-agora que está limpa, com esse vestido branco sem mancha de sangue... E c-com o cabelo penteado... - gaguejou extremamente sem graça - Mas é... Não é por isso q-que eu vou te agarrar ou coisa... Coisa do tipo - percebendo que não havia melhorado à sua situação, Zack desistiu, abaixando a cabeça - Droga!

No fim, Lizzie acabou rindo, fazendo Zack também sorrir constrangido.
- Amanhã a gente pode procurar o seu Raul... - lembrou Zack, repentinamente, parando de rir, fazendo Lizzie acordar daquele momento irreverente, recordando-a infelizmente do motivo que a levara até aquele lugar.

- Ah, sim... É! - assentiu Lizzie sem muito ânimo.



Era madrugada e o ambiente parecia mais denso que o normal. Não havia quase luminosidade alguma, a não ser pelo luar refletido na janela. Lizzie abriu os olhos repentinamente e ergueu-se da cama como se fosse marionete. Não queria acordar, nem levantar, muito menos andar, mas o fazia sem controle sobre seu corpo. Saiu do quarto e desceu as escadas chegando ao segundo andar; Virou à direita e empurrou a porta de leve. Era o quarto onde Zack dormia. O rapaz estava dormindo de bruços sem cobertor, exibindo costas bem definidas que estavam à mostra pela falta de blusa. Lizzie parou ao lado de sua cama e o observou por alguns segundos. “O que estou fazendo aqui?” – se perguntava repetidamente em mente. Uma de suas mãos levantou, novamente sem ser por sua vontade, e a menina viu que segurava um facão, provavelmente da cozinha, que ela não fazia idéia de como fora parar ali. Ainda involuntariamente, Lizzie ergueu o braço que segurava o objeto pontiagudo e com muita força, golpeou Zack nem no meio das costas. O golpeou mais de cinco vezes, espirrando sangue sobre a camisola branca que ela usava e em toda a cama. Antes de morrer, Lizzie pôde ver os olhos verdes do garoto arregalarem-se num susto e depois fecharem ao mesmo tempo que parava de gritar de dor. Lizzie chorava desesperada olhando o corpo de Zack ensangüentado à sua frente.
“NÃO!” – gritou histérica, ao mesmo tempo em que abria os olhos.
O quarto estava escuro e a única luminosidade existente era o luar refletido na janela. Mal conseguia enxergar o papel de parede verde musgo. Estava de volta ao quarto, deitada na cama, suando, sozinha.
Tinha sido apenas um sonho?
Lizzie podia jurar que tinha vivido aquele episódio horrível. Tinha sido tão real, que a garota precisou se levantar e conferir se Zack estava realmente vivo. Desceu até o segundo andar e abriu a porta do quarto onde ele dormia. O corpo do rapaz estava sobre a cama e sem sinais de sangue ou cortes nas costas, e era notável que ele respirava. Uma coisa, porém, a deixou incomodada: Zack dormia de bruços e sem blusa exatamente como no sonho.

Na manhã seguinte, Lizzie não escondia a tensão que sentia. Depois do pesadelo, não havia conseguido dormir direito. De alguma forma, sentia que o sonho era um tipo de aviso, e o medo de acontecer algo fatal à aquelas pessoas adoráveis por se envolverem demais com ela a consumia . Tinha receio do que os sentimentos dela pudessem ocasionar, e também, óbvio, do que Tito pudesse fazer. Sua energia andava ainda mais pesada desde que chegara ali e sabia que ele não gostava e nada da idéia de Lizzie procurar alguém para se livrar da companhia dele.
- Você está bem Lizzie? – perguntou Zack no café da manhã, observando o comportamento totalmente retraído da garota enquanto o resto conversava extrovertidamente.
- Sim, estou ótima – mentiu, enfiando uma colher de cereal na boca.
Martin passou o resto da manhã assistindo Tv e descansando já que era sua folga, Lucy o acompanhou e Lizzie foi para a varanda, onde sentou na rede e ficou olhando o pouco movimento de pessoas na rua. Trenton tinha um clima úmido, céu com nuvens e o ar tinha cheiro de folha seca, típico da estação de outono.
-   Sabe... Seria mais fácil começarmos a procurar o Raul se ao menos você tivesse um endereço – a voz de Zack surgindo de repente pelas costas de Lizzie fizera a garota se contorcer num susto. Ele se aproximou e sentou-se ao seu lado na rede. Lizzie achava engraçado em como Zack não esquecera o nome do homem e em como parecia disposto à encontrá-lo. Será que todo mundo naquele lugar era tão prestativo?
- Na verdade, eu acho que tenho. Acho que é alguma coisa Hamilton.
- Hm, sei. Ainda assim fica difícil considerando o tamanho da Hamilton Ave – Zack suspirou pensativo – Afinal, o que ele é seu? Sem querer ser intrometido...
- Ele é um amigo da faxineira do orfanato que eu vivi. Ela me ajudou muito lá e ela faleceu... – a voz de Lizzie foi diminuindo enquanto lembrava de Fabrizzia.
- Ah, que pena... Sinto muito.
Lizzie agradeceu mentalmente por Zack não continuar perguntando coisas a respeito do tal Raul, pois ainda não tinha bolado uma história convincente sobre aquela parte. O clima estranho que era formado ao se falar da morte de alguém era sempre um bom escape.
- A gente pode pesquisar na internet ou perguntar aos mais idosos que moram da Hamilton Ave se alguém conhece um Raul – o garoto sugeriu e Lizzie assentiu. Um silêncio se instalou e Zack sem perceber começou a balançar a rede com o leve impulso que fazia com os pés. O vento gélido fazia os cabelos da menina esvoaçarem, e incomodada, puxou algumas madeixas para trás da orelha. Notou pela primeira vez o rosto de Zack, que naquele momento estava tão próximo ao seu lado. Ele tinha um rosto muito bonito, que misturava a dose certa de aparência expressamente masculina com feições mais delicadas, e olhos incrivelmente verdes que brilhavam mesmo sem a presença de luzes solares.
Ao perceber que a garota o observava, Zack encarou-a com interrogação e um sorriso extra, fazendo-a corar.
- Eu ia dizer obrigada, mas já percebi que você não gosta de agradecimentos – sussurrou Lizzie tentando disfarçar. Zack apenas riu.

Após o delicioso almoço feito por Martin, um saboroso bolo de batata, Lizzie e Zack  concordaram em começar a busca pelo Raul caminhando a partir do lado da Hamilton Ave que tinha o Centro Médico St. Francis, que possuía mais residências, ao contrário do outro lado da avenida que tinha mais comércio.
Andaram do hospital até um restaurante chamado “Peasants” abordando todos os idosos que viram pela frente, sempre perguntando se algum deles conhecera algum Raul que vivia em Trenton. “O Doutor Raul? Ele quase me deixou morrer  uma vez no St. Francis!” “Você ta falando do Raul que era gay? Eu acho que ele se mudou!” “Eu conheci um Raul uma vez que era farmacêutico...” “Meu filho, Raul. Infelizmente ele morreu atropelado.”
Foram mais Rauls que o esperado. Nenhum, porém, parecia ser o que Lizzie imaginava que seria. O problema é que ela não fazia a mínima idéia de como e quem ele era, então, o que podia esperar? Ele podia ser qualquer um daqueles Rauls citados, ou então, ele nem existia, ou o endereço e a cidade estavam errados. Era muitas opções, e nenhuma delas deixava a garota otimista.

Depois de 3 horas de caminhadas e abordagens públicas, Lizzie e Zack decidiram voltar para casa de Martin, mas levando anotado o endereço de todos os Rauls ainda vivos que moravam em Trenton que tomaram conhecimento.
- Amanhã eu visito cada um deles – disse Lizzie ofegante durante o caminho de volta.
- Amanhã não poderei te ajudar. Tem trabalho no pedágio. Tudo bem?
- Sem problemas! Você já ajudou demais.
- Mas no fim de semana a gente vê o outro lado da Hamilton Ave! – continuou Zack ignorando Lizzie, sem perceber que a garota de certa forma dispensava mais ajudas. Ela sorriu ao ver a insistência inconsciente do garoto, mas não se sentiu confortável com a situação, pois, quando fosse visitar os Rauls para perguntar a respeito de Fabrizzia, ela ia ter que falar todo o resto a respeito de si mesma, e como faria isso na frente de Zack se ele continuasse acompanhando-a nas buscas?
- Seria bom fazer outra coisa no fim de semana... – a garota comentou. Zack olhou-a entendendo o comentário como um tipo de indireta, mas ficou quieto. Talvez ela tivesse falado aquilo inocentemente, e nem se quer envolvera-o na hipótese.
Ficaram calados o resto do caminho e quando estavam chegando na Chambers Street, onde Martin morava, uma voz feminina chamou por Zack. Lizzie procurou a origem da voz e foi encontrá-la atravessando a rua. Uma menina de cabelos loiros ondulados, olhos azuis e pele branca se aproximava trazendo consigo um sorriso enorme e um aroma de pêssego.
- Oi Zack, quanto tempo! – exclamou enquanto o abraçava. Ele respondia ao ato um pouco mais sem vontade – Aonde você tem andado? Todo mundo tem perguntado sobre você, e eu não sei o que responder já que você sumiu desde que... Bem, você o quê – a voz dela tinha um tom naturalmente ácido e seu olhar exilava ira e luxúria em cima de Zack, ao mesmo tempo em que ignorava Lizzie completamente.
- Er... Er... Nada a ver Summer... – gaguejou estressado, alternando o olhar entre a loira à sua frente e Lizzie totalmente avulsa ao seu lado – Só estou trabalhando muito.
- Trabalhando?! Você? Como assim? Quem diria... Quem diria! – a menina parecia realmente incrédula, ou desconfiada considerando o cenho franzido.
- Essa é a Lizzie – apresentou sem graça, se afastando da loira.
- Oi! – Lizzie sorriu de canto com um aceno de mão, e em troca recebeu um olhar atravessado. Summer a analisou dos pés à cabeça, soltando um risinho ao fim.
- Oi... – bufou. - Bem, Zack, você podia aparecer lá em casa como costumava fazer antes dessa mudança toda. Sabe, eu já esqueci o que houve!
 - Er, a gente vê Summer... Mas agora eu tenho que ir – Zack falava já dando passos para trás antes da menina o puxar para estalar dois beijos em suas bochechas.
- Te ligo depois então, ok – Summer falou de uma forma que parecia mais um aviso do que sugestão. Zack assentiu e voltou a andar com passos mais apressados, não dando a oportunidade de ninguém falar mais nada, inclusive Lizzie se despedir de Summer. Como se isso fosse necessário...
Os poucos minutos que se levaram até chegarem em casa foram ainda mais silenciosos. Lizzie pensou em falar alguma coisa ou brincar, mas via que Zack não estava nada confortável, então se manteve quieta até entrar na sala e contar para Martin como havia sido à busca pelo Raul. Zack subiu as escadas e voltou logo em seguida com uma sacola na mão, pegou a caixa de ferramentas e antes de sair pela porta, se despediu coletivamente de pé. “Nos vemos amanhã no trabalho Baby. Até mais Lucy. Tchau Lizzie.”  E a porta bateu atrás de si num barulho alto.
Martin e Lizzie se entreolharam sem entender e até mesmo Lucy estranhara a atitude do rapaz.
- Aconteceu alguma coisa? – perguntou.
-  Eu também queria saber...


Deixando de lado o comportamento estranho de Zack, Martin voltou à atenção para as palavras de Lizzie, que terminava de lhe explicar o que haviam feito.
- Eu só conheci um Raul a minha vida inteira, e foi no colégio – comentou em meio à conversa – Mas fique tranqüila, você vai conseguir achá-lo! Até lá, pode ficar aqui o tempo que for necessário.
- Eu nem sei como agradecer! – exclamou.
- AH, Liz, eu ia quase esquecendo de te avisar que hoje vamos ter uma pequena reunião aqui em casa, no começo da noite – Lucy falou animada retornando à sala segurando um pires com cookies nas mãos. Lizzie ainda não conseguira se acostumar com toda a fácil mobilidade da menina deficiente – O grupo da igreja vem aqui todas as quintas para fazermos uma pequena corrente de oração. Não é chato ou massivo, na verdade, é muito prazeroso e divertido. Sei que você não é religiosa, mas pode ficar a vontade pra participar!
Lizzie evitou torcer o nariz como gostaria de ter feito, mas Martin estava ali pra ver, e ele também parecia animado com o programa, mas a garota não tinha pretensão alguma de participar de um grupo de oração. A idéia não só lhe parecia chata, como não via motivos de interagir se não tinha fé.
- Ai, desculpa Lucy, mas não sei se minha presença seria boa. Sem falar que fiquei bastante cansada com essa caminhada e eu já estava pensando em dar uma cochilada... – respondeu um pouco sem graça.
- Sem problemas! – sorriu. Lucy realmente não pareceu se chatear com a negação.
Lizzie então ajudou a arrumar a mesa de lanche e subiu para o quarto no terceiro andar, deitando-se imediatamente. Não dormiu na hora, pois ficou pensando em todas as coisas que tinham acontecido naqueles últimos dois dias. Martin, Lucy, Zack... Imaginou o que aconteceria se descobrissem a verdade sobre ela, sobre a mentira que havia contado e sobre sua vida atormentada. Pensou o que faria depois se encontrasse o tal Raul, afinal, ela não poderia ficar ali como hóspede pra sempre. Cedo ou tarde, ela ia ter que ir embora, e mesmo estando a tão pouco tempo naquele lugar, não tinha vontade alguma de se mudar. Lizzie nunca havia se sentido parte de alguma coisa, nem nunca se sentiu num lar de verdade, e pela primeira vez, estava provando destas sensações. Tinha medo de muitas coisas, e o futuro era um deles. Tudo era tão incerto e inseguro...
Por algum motivo que desconhecia, Lizzie também pensou sobre Summer, a ‘amiga’ de Zack. Meninas como ela são sempre as que perseguem gente como Lizzie. Meninas populares, frescas, com seus cabelos bem tratado e roupas de grife. No fundo, Lizzie sentia inveja da vida despreocupada e divertida dessas garotas, e uma parte de si gostaria de ter os mesmos defeitos se fosse preciso para ter essa vida, mas assim como nos filmes e novelas, são justamente estas meninas que ficam com o final infeliz, e as esquisitas que sofrem buylling saem ganhando. É, na vida real tudo era diferente... As meninas ricas e populares compram sua felicidade, e meninas esquisitas morrem cortando os pulsos. É dramático, mas é a vida real. E a vida real de Lizzie ainda tinha o detalhe mórbido de ser “assombrada” por tudo aquilo que a maioria das pessoas temem mas não acreditam de verdade.
“Porque o Zack ficou tão nervoso depois que viu aquela garota?” – pensou, lembrando do comportamento repentino do menino.
Seus pensamentos foram interrompidos por alguns barulhos que vinham do primeiro andar. O som da campainha anunciava a possível chegada das visitas de Lucy. Seria uma noite de muito louvor lá embaixo e Lizzie não via à hora de dormir pra não escutar nada, mas estranhamente, mesmo cansada, não conseguia pregar os olhos.
Como costumava deitar de barriga pra cima, Lizzie ficou contemplando a imagem do teto e das paredes por um tempo, enquanto voltava a pensar sobre infinitas coisas a fim de cair no sono sem perceber.  O som de vozes entusiasmadas cortava o ar, quebrando o silêncio do quarto.
“Dorme Lizzie, dorme!” – falava mentalmente seguidas vezes.
O desespero pra dormir chegava a ser exagerado. Inquieta, ela mudava de posição várias vezes e fechava os olhos com força. À medida que o grupo no primeiro andar iniciava as orações, Lizzie ia se sentindo cada vez mais incomodada; Além disso, ela conseguia perceber que a presença de Tito se tornava cada vez mais negativamente notável, causando uma sensação de sufocamento. Palavras da bíblia eram gritadas e depois canções eram ouvidas, e Lizzie tentava controlar seu desconforto, diferente do clima tenso que vinha da figura negra de Tito no pé de sua cama, que só aumentava. Depois de crescida, Lizzie havia aprendido a ignorar a imagem de Tito de tal forma que quase nunca o percebia, mas naquele momento era impossível. 

Estranhamente, a garota começou a tossir insistentemente, como se um caroço estivesse entalado em sua garganta. Sentou-se na cama involuntariamente com a força da tosse, e a saliva que respigava de sua boca saia num tom avermelhado, como gostas de sangue. Quando a tosse ficou menos intensa, Lizzie voltou a pousar a cabeça no travesseiro, e ao olhar o teto, percebeu que estava tonta. Era como se a tivessem girado várias vezes rapidamente, deixando aquela sensação de que poderia cair a qualquer momento. Sua visão embaçava, seu corpo doía e podia jurar que sua temperatura aumentava gradualmente.
Com tantas dores, Lizzie acabou desmaiando de sono, literalmente. Seus olhos fecharam e tudo apagou. A última coisa que viu antes da visão escurecer foi a imagem de Tito sumir de sua frente.

Acordo duas horas depois com alguém a chocalhando. Abriu os olhos assustada. Era Zack.
- Lizzie! Lizzie! Acorda! – berrava enquanto a balançava pelos ombros.
- Ah... Oi... O que houve? – perguntou com a voz rouca, ainda sonolenta e sem entender nada.
- Aconteceu um acidente! Vamos, acorda logo! – o rapaz estava histérico, com a voz trêmula.
- Acid-dente? Como assim? Com quem? – a palavra ‘acidente’ fez Lizzie despertar imediatamente. Ergueu-se, sentando na cama, e esfregou os olhos.
- Lucy! Baby a levou correndo no hospital e pediu para vir te avisar... Temos que ir pra lá também! – respondeu ficando de pé dando espaço para que ela também se levantasse, o que fez prontamente ao ouvir a noticia.
- Lucy sofreu um acidente? Como? – perguntou preocupada. Como não havia mudado a roupa antes de deitar pra cochilar, não precisou se trocar e ela também nem se importou em escovar os dentes. Desceram as escadas correndo.
- Eu não sei direito... O Baby me ligou agora a pouco e pediu pra te buscar, não me explicou o que houve exatamente. Mas ele estava chorando e  muito nervoso – explicou enquanto trancavam a porta e entravam no carro. O mesmo carro que Zack usara para levar Lizzie na outra manhã à casa de Lucy.
 - Mas ele não falou nada sobre a gravidade do acidente ou se ela está bem ou muito mal?
- Só sei que foi muito feia a coisa... – disse antes de ligar o carro e pisar fundo no acelerador.
O hospital não era longe, pelo contrário, era praticamente no fim da avenida. Chegaram em 2 minutos. Zack estacionou o carro com pressa na primeira vaga que viu. Nem precisaram entrar no hospital para encontrar Martin; Ele estava do lado de fora, fumando um cigarro de uma forma que parecia que ia come-lo a qualquer minuto sem querer, com lágrimas caindo por todo o rosto. Era triste só de olhar aquela imagem. Um homem que Lizzie lembrava como um sorriso, estar com aquela aparência.
- O que aconteceu Baby, pelo amor de Deus, fala logo?! – pediu Zack já com os olhos marejados.
- Como pode uma garota feliz e cheia de vida ter um ataque cardíaco aos 25 anos de um minuto para o outro? Como Zack, diz pra mim!? – Martin falava tentando se manter forte, mas não conseguia segurar alguns soluços do choro que continuava caindo. Seus olhos estavam vermelhos e sua cara inchada. Sua expressão era de pura interrogação.
Zack ficou sem fala e Lizzie assustada. Já sabia que aquilo não havia sido atoa. Que Lucy não havia tido um ataque cardíaco por motivos de saúde ou algo similar. A culpa era dela. Da presença dela! Teve vontade de chorar de raiva, mas se segurou.
- Mas... Ela está viva, né? – perguntou com uma voz fraca. Tinha medo de ouvir a resposta, mas precisava saber.
Zack olhava fixamente em algum ponto do ar com a mão na boca, ainda não acreditando no que acontecera. Martin terminava o cigarro amassado, que fumou até passar da linha do filtro.
- Quando ela entrou no quarto, ainda est-tava tendo o ataque... Eu não s-sei... Eu eu não sei -  gaguejou, voltando a chorar desesperadamente. O coração de Lizzie apertou e, impulsivamente, abraçou Martin.
- Ela vai ficar bem! Eu sei disso – cochichou com a cabeça pousada sob o peito de Martin.